PANORAMA DO CINEMA NEGRO DE FICÇÃO NO BRASIL
Texto de Renato Cândido
O primeiro longa de ficção feito por um negro brasileiro foi “Todos por Um”, de Cajado Filho, em 1948 – 34 anos depois do primeiro filmado por um branco (“O Crime dos Banhados”, de Francisco Santos). Só em 1984, uma mulher negra, Adélia Sampaio, dirigiu um longa, “Amor Maldito”.
Na segunda década do Século XXI observa-se um grande crescimento do protagonismo de cineastas negres na produção cinematográfica no Brasil. Hoje falaremos de longas-metragens de ficção.
A presença em festivais de cinema, além de tornar o audiovisual negro uma ferramenta política antirracista na construção do imaginário coletivo, permitiu às produções alcançarem salas comerciais de cinema, festivais de renome, exibições em TV Aberta, TV por Assinatura e plataformas de VoD.
O longa “Temporada”, de André Novais Oliveira, conquistou o prêmio de melhor filme no Festival de Cinema de Brasília em 2018, além de ter participado dos festivais de Roterdã, Cannes e de Locarno. Atualmente está disponível no Netflix.
No ano anterior, no mesmo Festival de Brasília, outra cineasta negra, Glenda Nicácio, levou o melhor filme com “Café com Canela”, filme co-dirigido com cineasta branco Ary Rosa.
Outros cineastas se destacam. É o caso de “Um Dia com Jerusa”, de Viviane Ferreira; “Cabeça de Nêgo”, de Deo Cardoso; “Bróder”, “Correndo Atrás”, “M-8 – Quando a Morte Socorre a Vida”, de Jeferson De; “No Coração do Mundo” e “O Nó do Diabo”, de Gabriel Martins; entre outros.
O momento atual resulta de um processo histórico de profundas disputas políticas das narrativas negras no Brasil. Espaços periféricos e protagonistas negros passaram a ser mais evidenciados nas produções, inclusive por realizadores brancos.
Assim, cada vez mais pessoas negras e periféricas podem se capacitar nos ofícios do audiovisual. Este processo também acontece por políticas de ações afirmativas, como cotas raciais e sociais nas universidades públicas.
É essencial manter e aumentar a atuação da pessoa negra nesta profissão. Bem como exercer o protagonismo negro nas produções audiovisuais para garantir a possibilidade de se contar histórias de existência negra no Brasil com dignidade.
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